13 agosto 2019
Algumas notas sobre a greve dos motoristas
Do
ponto de vista de uma visão das coisas por uma ângulo ideológico
de esquerda, não se pode deixar de notar que a greve dos motoristas
de substâncias perigosas deu origem a uma espécie de subversão
curiosa: a entidade patronal identificada com o interesse nacional e
o governo actual, que se quer de esquerda, identificado com a
entidade patronal.
A
desobediência à requisição civil é um crime, como tem sido
repetido insistentemente por entidades oficiais e meios de
comunicação social. Só que tem sido acentuado quase exclusivamente
que a punição é de pena de prisão, quando isso é só meia
verdade: o crime é punido com pena de prisão ou pena de multa.
A
greve é desaforada, inquestionavelmente impopular e até por isso
parece ter sido mal orientada, inconveniente pela forma e pelo timing
com que foi conduzida. Além disso, a luta destes trabalhadores
parece andar ao sabor dos ziguezagues e desnorteamentos de um homem
que é vice-presidente e principal porta-voz do sindicato não sendo
motorista, mas advogado e assessor jurídico do mesmo, o que não
deixa de ser um ineditismo quase surreal na história do sindicalismo
português. Porém,a luta que estes trabalhadores têm movido desde
Abril passado tem um mérito, porventura o único: o de mostrar a
enorme responsabilidade e gravidade deste trabalho, pago com um
salário-base francamente baixo e não correspondente à sua
exigência e dificuldade.
Não
falta por aí quem pretenda aproveitar o momento para sugerir ou
exigir uma intervenção na lei da greve. Obviamente com intuito de
limitar, dificultar ou mesmo anular o exercício desse direito. Já
se elencam sectores profissionais onde a greve deveria ser proibida.
Como se não bastassem os recursos que a lei actual já possibilita
para reduzir ao mínimo ou até anular os seus efeitos, como tem sido visível no
curso desta greve.