23 fevereiro 2006

 

A propósito de Frida Kahlo

A propósito de Frida Khalo, vi a exposição da sua pequena mostra de pintura em Santiago de Compostela (a mesma que vem agora para o Centro Cultural de Belém), nas férias de Natal. As expectativas eram imensas em relação a esta pintora rodeada de uma aura quase mítica, não só por ter sido a companheira desse outro não menos mítico pintor que dá pelo nome de Diego de Rivera, o qual manteve relações privilegiadas com o papa do surrealismo – André Breton -, o amigo mexicano de Trotsky, que, com outros amigos, proporcionou a este o exílio em Coyocan, onde viria a ser assassinado pelo comunista espanhol Ramon Mercader, com auxílio de outro pintor mexicano também comunista – Sisneros - às ordens de Estaline, crime esse que foi efabulado por Jorge Semprum na «Segunda Morte de Ramon Mercader» , mas também pela originalidade da sua pintura, influenciada pelo onirismo e pelo insólito das associações de imagens característicos do surrealismo, mas confesso que me soube a pouco. De resto, essa foi a decepção de quase todos os que acorreram a Santiago de Compostela. Mas vale a pena ver, isso vale. De entre os quadros expostos, um dos mais impressivos é o que foi reproduzido neste blogue pela Dr.ª Carmo: aquele que representa uma mulher assassinada no leito, horrorosamente golpeada e ensanguentada, tendo ao lado, de pé, o seu assassino, que ostenta um sorriso sádico e sustenta numa das mãos uma faca de carniceiro. Mas sendo um dos quadros de carácter narrativo mais explícito, suscita leituras mais ideológicas ou mais psicológicas, consoante os gostos. A Dr.ª Carmo forneceu uma leitura de carácter mais ideológico, por onde perpassa um sobressalto feminista: o homem que mata a mulher por ciúme e que no tribunal alega: «Mas foram só uns quantos golpes!». A narrativa que eu li quando vi a exposição fala de outra maneira: Frida Kahlo, fortemente tomada de ciúmes por Diego de Rivera ter ido para a cama com a sua irmã (a relação deles foi sempre muito fora das convenções) , vingou-se, pintando o amante com traços particularmente sádicos, de que o riso satânico e o facalhão são expressões chocantes, e a mulher crivada de feridas e banhada em sangue.
Mas, afinal, que interesse têm estas leituras? Só o de serem meras leituras. Uma obra de arte não se refere a nada de exterior a ela.





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