06 maio 2006

 

Novo Tempo

Não sei se ainda será de bom tom citar Bertolt Brecht. Acontece que, relendo a «Vida de Galileu», em tradução de Yvete Centeno para a velha Portugália Editora, me pareceu oportuno (mas eu sou um espírito fossilizado que já não tem emenda) ressuscitar as passagens que transcrevo abaixo, retiradas do apêndice que tem o título «Notas Sobre A Vida De Galileu», que o próprio Brecht alinhavou sem as poder rever:

«Nestas alturas, o próprio conceito de «novo» é falseado. O velho e o velhíssimo que voltam a entrar em cena apregoam-se como novos, ou são declarados novos ao serem apresentados sob uma nova forma. Mas o verdadeiramente novo, porque foi destituído, é apresentado como datando já de ontem, moda passageira cujo tempo passou. O novo é, por exemplo, a maneira de se fazerem guerras, e o velho será uma maneira de governar (subentende-se: ainda nunca posta em prática), que torne as guerras desnecessárias. (…) Em tais épocas as esperanças dos homens não são diminuídas em nada, mas são voltadas ao contrário.
(…)
No meio da crescente escuridão que cai sobre um mundo febril, cheio de feitos sangrentos e pensamentos não menos sangrentos, cheio de uma selvajaria concentrada que sem entraves parece dirigir talvez a maior e mais terrível guerra de todos os tempos, é difícil defender uma atitude que convenha a pessoas no limiar de uma época nova e feliz. Pois tudo indica que está a anoitecer, e não a amanhecer um novo tempo.
(…)
Que significa «Novo Tempo»? Não estará já esta própria expressão ultrapassada? (…) Agora é a barbárie que se dá ares de nova. Diz de si mesma que espera durar mil anos.»





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