04 maio 2006

 

Expedições policiais

A operação de anteontem no Bairo da Torre suscita múltiplas perplexidades, umas sobre a acção da polícia, outras sobre a própria existência do bairro.
Comecemos pela eficácia da operação. O balanço dos resultados é confrangedor: 600 agentes envolvidos e150 viaturas mobilizados (não falando já dos cães) produziram uma apreensão de 19 armas ilegais (sendo 13 caçadeiras e apenas uma arma de guerra!) e 10 detidos (ficarão presos?). A rácio agente/arma apreendida é irrisória. O que terá acontecido? Enganaram-se as autoridades? Alguém passou a informação para o bairro? Em qualquer caso, um desperdício de meios (sim, uma operação destas não deve ter ficado barata para os bolsos dos contribuintes, bolsos esses tantas vezes invocados pelos nossos governantes).
Ao evidente fiasco dos resultados acresce a forma de intervenção policial. Ultimamente vem-se insistindo neste tipo de operações de grande envergadura, com cerco a comunidades inteiras, sejam acampamentos ciganos, sejam bairros residenciais, cerco seguido de "passagem a pente fino" de todos os moradores. Ora é preciso recordar que esse ambiente de coacção não é justificável, não só por poder abranger, como foi o caso, pessoas obviamente "inocentes" (crianças, idosos), algumas das quais, segundo dizem os jornais, ficaram aterrorizadas com a intervenção da polícia, como por constituir uma forma de coacção indiscriminada sobre toda a comunidade, independentemente das "culpas" individuais. Demonstrações de força deste tipo confundem-se com expedições punitivas. Mas não estamos na Faixa de Gaza nem a PSP é um exército colonial!
Uma outra ordem de considerações tem a ver com a própria existência do bairro. Como é possível que ainda existam bairros assim? Barracas de tábuas, zinco e plásticos, sem água canalizada, ruelas em terra batida, tudo num cenário próprio do que retratou implacavelmente Ettore Scola em "Feios, porcos e maus". Pobreza, miséria da mais pura. E crime, claro. (Será para admirar?) Que têm os governantes (centrais e locais) a dizer a este bairro? Apenas sabem utilizar a linguagem policial?





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