27 maio 2006
Os «media» e o efeito de mediatização
Ainda com respeito à realidade mediática, talvez valha a pena reflectir nas respostas da curta entrevista dada pelo intelectual francês Rémy Rieffel à revista «Visão» do passado dia 25 de Maio. Aí, ele aborda questões fundamentais, como a de certas especificidades dos «media» que se convertem em factores perversos que condicionam e deturpam a realidade – o chamado «efeito de mediatização». Por exemplo, a prevalência da «imagem», no sentido de «aparência», sobre a substância. Na área da política, que é a que ele foca em especial, a relevância da «telegenia» como critério fundamental, elidindo os aspectos que realmente contam ou deviam contar. Cita o caso da candidata potencial do PS – Ségolène Royal – em que a imagem e a comunicação atraente em termos mediáticos passam à frente do programa e das ideias. E é isso que conta e acaba por impor-se.
O mesmo sucede em relação aos deputados mediáticos, em detrimento dos que não têm essa característica. A comunicação social dá relevo aos primeiros e alheia-se dos segundos, não obstante haver neste grupo pessoas muito competentes, muito sérias e muito eficazes. «Deste modo - diz ele – o público tem uma imagem falseada da realidade. (…) Privilegia-se a imagem de profissionais da política e negligencia-se gente que faz seriamente o seu trabalho».
Em relação aos tempos, afirma: «O tempo mediático é a velocidade, o efémero, o directo. É uma lógica que leva ao espectáculo e à «monstração». Já o trabalho político inscreve-se no tempo, implica reflexão e não joga sistematicamente na transparência. Na decisão política há também uma parte de segredo. Os media pedem cada vez mais transparência, mas a transparência é um logro».
Isto podia aplicar-se e aplica-se a outras profissões, como o demonstrou o sociólogo Pierre Bourdieu, que neste momento não tenho à mão para o citar. Nos seus trabalhos, nomeadamente sobre a televisão, ele mostrou que a televisão instaura lógicas perversas no seio das diversas profissões, passando por cima das regras e princípios próprios que as regem, dando muitas vezes relevo a pessoas medíocres, que jogam precisamente no mediatismo para se imporem à margem de critérios que constituem a única base séria de reconhecimento do valor e do mérito profissional.
E em relação aos tempos e à transparência, como também em relação às características mediáticas de alguns personagens, quão bem ou melhor se adequam as palavras de Rieffel à realidade judiciária.
O mesmo sucede em relação aos deputados mediáticos, em detrimento dos que não têm essa característica. A comunicação social dá relevo aos primeiros e alheia-se dos segundos, não obstante haver neste grupo pessoas muito competentes, muito sérias e muito eficazes. «Deste modo - diz ele – o público tem uma imagem falseada da realidade. (…) Privilegia-se a imagem de profissionais da política e negligencia-se gente que faz seriamente o seu trabalho».
Em relação aos tempos, afirma: «O tempo mediático é a velocidade, o efémero, o directo. É uma lógica que leva ao espectáculo e à «monstração». Já o trabalho político inscreve-se no tempo, implica reflexão e não joga sistematicamente na transparência. Na decisão política há também uma parte de segredo. Os media pedem cada vez mais transparência, mas a transparência é um logro».
Isto podia aplicar-se e aplica-se a outras profissões, como o demonstrou o sociólogo Pierre Bourdieu, que neste momento não tenho à mão para o citar. Nos seus trabalhos, nomeadamente sobre a televisão, ele mostrou que a televisão instaura lógicas perversas no seio das diversas profissões, passando por cima das regras e princípios próprios que as regem, dando muitas vezes relevo a pessoas medíocres, que jogam precisamente no mediatismo para se imporem à margem de critérios que constituem a única base séria de reconhecimento do valor e do mérito profissional.
E em relação aos tempos e à transparência, como também em relação às características mediáticas de alguns personagens, quão bem ou melhor se adequam as palavras de Rieffel à realidade judiciária.