27 maio 2006
Os «media» em questão
Falaram-me do programa «Prós e Contras» da última segunda-feira como tendo tido um bom nível. Porém, não tenho o hábito de ver televisão e, por isso, perdi-o. Já tenho perdido outros programas, mas na vida alguma coisa se tem de perder. É uma questão de opção. Se a televisão fosse genericamente de qualidade, não sei o que havia de ser de mim. O que me vale é que ela normalmente não vale a pena e, por isso, perder uma coisa boa, lá muito de quando em quando, é um risco que praticamente não conta.
Eu sabia que ia lá o Carrilho por causa do livro que ele escreveu, mas não dei ao facto qualquer importância. Também a não tinha dado ao livro, que me pareceu, quando anunciado, um ajuste de contas, muito à Carrilho, com a sua «pose» insofrível, pelo desaire da sua desastrada campanha eleitoral. Posso-me ter enganado e talvez o livro até valha a pena, independentemente da personalidade de Carrilho. Mas o que é facto é que ele parece ter tido o mérito de agitar as águas no seio do poder mediático. Prado Coelho já tinha terçado armas pelo amigo em algumas das suas crónicas e até se deu ao luxo de escrever um artigo de maior fôlego no suplemento «Mil Folhas» a dar estatuto e grandeza à indignação carrilhista, desancando no fraco jornalismo que por aí se pratica e denunciando o que apelidou de «razão jornalística» e a desgraçada escrita de tantos jornalistas que «escrevem com os pés» (e se calhar também com os pés falam). Mas eu sempre levei isso à conta de generosa e desculpável cumplicidade para com o amigo, correligionário e confrade académico. Também admito que me possa ter enganado e que, por detrás ou por baixo dessa aparência, haja uma grande e boa razão. Se assim for, tanto melhor.
O que é certo é que, nestes últimos dias, a crítica aos «media», a esse poder que é de todos os poderes jurídicos e fácticos o que está realmente a salvo de qualquer escrutínio, até porque ele parece ser o poder escrutinador por excelência e se resguarda sempre de qualquer crítica séria ou veleidade de intervenção no imenso guarda-chuva da liberdade de imprensa e de informação, a crítica aos «media», dizia, tem aparecido em fogachos que têm despontado de vários lados. E desferida por pessoas que merecem a maior credibilidade. Desde o jornalismo sensacionalista e demagógico, que é como que uma pecha estrutural da prática jornalística, agudizada pelo aparecimento dos grandes meios de comunicação social modernos e consequente encarniçamento da competição e da conquista de audiências, até ao atropelo flagrante de normas deontológicas e práticas de uma grotesca espectacularidade, à promiscuidade entre os «media» e os baixos interesses do poder político, em que se concedem benesses e comedorias à mesa do orçamento a troco de diversos favores, quer traduzidos em acções, quer em omissões, e outros poderes fácticos, tudo isso tem despontado em várias manifestações críticas. Ainda ontem, sexta-feira, António Pinho Vargas, nas «Cartas ao Director», publicava no «Público» um texto de denúncia vigorosa, que terminava desta forma patética: «Berlusconi, podes vir! Está tudo preparado para ti!». E Manuel António Pina, com a sua autoridade de competente jornalista e reconhecido escritor, escrevia na quinta-feira, na sua crónica do Jornal de Notícias, contundentemente intitulada «Delinquência deontológica»: «Nunca como hoje houve tanta canalhice e tanta impunidade nos jornais e na informação televisiva (pelo menos nos 35 anos que levo de jornalismo). E nunca como hoje os homens e mulheres sérios que há no jornalismo tiveram, face à delinquência deontológica triunfante, tantos motivos de vergonha.»
Pergunto-me: chegou finalmente a vez dos «media»? Será que os «media» comportam realmente uma crítica ao seu poder, ou será tudo uma operação de cosmética? E foi Carrilho (apesar de Carrilho) que despoletou esta crítica? Bem haja!
Eu sabia que ia lá o Carrilho por causa do livro que ele escreveu, mas não dei ao facto qualquer importância. Também a não tinha dado ao livro, que me pareceu, quando anunciado, um ajuste de contas, muito à Carrilho, com a sua «pose» insofrível, pelo desaire da sua desastrada campanha eleitoral. Posso-me ter enganado e talvez o livro até valha a pena, independentemente da personalidade de Carrilho. Mas o que é facto é que ele parece ter tido o mérito de agitar as águas no seio do poder mediático. Prado Coelho já tinha terçado armas pelo amigo em algumas das suas crónicas e até se deu ao luxo de escrever um artigo de maior fôlego no suplemento «Mil Folhas» a dar estatuto e grandeza à indignação carrilhista, desancando no fraco jornalismo que por aí se pratica e denunciando o que apelidou de «razão jornalística» e a desgraçada escrita de tantos jornalistas que «escrevem com os pés» (e se calhar também com os pés falam). Mas eu sempre levei isso à conta de generosa e desculpável cumplicidade para com o amigo, correligionário e confrade académico. Também admito que me possa ter enganado e que, por detrás ou por baixo dessa aparência, haja uma grande e boa razão. Se assim for, tanto melhor.
O que é certo é que, nestes últimos dias, a crítica aos «media», a esse poder que é de todos os poderes jurídicos e fácticos o que está realmente a salvo de qualquer escrutínio, até porque ele parece ser o poder escrutinador por excelência e se resguarda sempre de qualquer crítica séria ou veleidade de intervenção no imenso guarda-chuva da liberdade de imprensa e de informação, a crítica aos «media», dizia, tem aparecido em fogachos que têm despontado de vários lados. E desferida por pessoas que merecem a maior credibilidade. Desde o jornalismo sensacionalista e demagógico, que é como que uma pecha estrutural da prática jornalística, agudizada pelo aparecimento dos grandes meios de comunicação social modernos e consequente encarniçamento da competição e da conquista de audiências, até ao atropelo flagrante de normas deontológicas e práticas de uma grotesca espectacularidade, à promiscuidade entre os «media» e os baixos interesses do poder político, em que se concedem benesses e comedorias à mesa do orçamento a troco de diversos favores, quer traduzidos em acções, quer em omissões, e outros poderes fácticos, tudo isso tem despontado em várias manifestações críticas. Ainda ontem, sexta-feira, António Pinho Vargas, nas «Cartas ao Director», publicava no «Público» um texto de denúncia vigorosa, que terminava desta forma patética: «Berlusconi, podes vir! Está tudo preparado para ti!». E Manuel António Pina, com a sua autoridade de competente jornalista e reconhecido escritor, escrevia na quinta-feira, na sua crónica do Jornal de Notícias, contundentemente intitulada «Delinquência deontológica»: «Nunca como hoje houve tanta canalhice e tanta impunidade nos jornais e na informação televisiva (pelo menos nos 35 anos que levo de jornalismo). E nunca como hoje os homens e mulheres sérios que há no jornalismo tiveram, face à delinquência deontológica triunfante, tantos motivos de vergonha.»
Pergunto-me: chegou finalmente a vez dos «media»? Será que os «media» comportam realmente uma crítica ao seu poder, ou será tudo uma operação de cosmética? E foi Carrilho (apesar de Carrilho) que despoletou esta crítica? Bem haja!