24 maio 2006
Lá como cá
Já andava há um tempo para transcrever uma passagem dum texto que li no «Le Monde Diplomatique» do passado mês de Abril (versão portuguesa), assinado por Frederic Lebaron e Gérard Mauger, aquele, sociólogo, professor da Universidade de Picardia e este, sociólogo, director do CNRS. Apeteceu-me citá-los sobretudo por causa de uma série de artigos de opinião que tenho lido na imprensa portuguesa de respeitáveis colunistas e que batem a tecla dos «privilégios» conquistados à sombra dos antigos direitos sociais e económicos, entoando o «cântico negro» da nova moda: trabalhar mais e por menos dinheiro, reformas retardadas e com menos direitos, precariedade de emprego, os «privilégios incomportáveis» do funcionalismo público, etc.
Aqui vão, pois, algumas passagens significativas daqueles autores:
«A nova retórica reaccionária, longe de se apresentar em França como uma figura invertida da retórica progressista, adopta por conta própria o léxico do adversário. Os profetas do neoliberalismo, bem como os respectivos executantes políticos e aduladores mediáticos, todos se apresentam como «modernizadores», corajosos inovadores decididos a ultrapassar as «inércias», os «bloqueios», os «imobilismos» ou os «tabus» da sociedade francesa; exibem-se como reformadores, indomáveis adversários de todos os «conservadorismos», fervorosos partidários da «igualdade de oportunidades», resolvidos a lutar contra os «privilégios dos abastados» (a começar pelos dos funcionários públicos e, por extensão, de todos os que têm a singular regalia de «beneficiar» dum emprego estável); alardeiam-se como «realistas» capazes de afrontar de forma pragmática o mundo tal como ele é e as quimeras dos retrógrados defensores dum passado caduco; como resolutos adversários do desemprego (não «tentaram» eles tudo?); como defensores dos «excluídos» (os «out»), contra os corporativismos pusilânimes e os egoísmos nacionais (esses «in» que gozam de «emprego vitalício»), como internacionalistas, «abertos», adversários inflexíveis dos «encerramentos», das «protecções», dos «recuos soberanistas» e por aí fora.
(…)
«Deste modo, a direita neoliberal foi-se aos poucos apropriando da modernidade, da reforma, da solidariedade, do realismo, do internacionalismo, etc., esperando fazer passar uma operação perfeitamente reaccionária por um empreendimento progressista. Trata-se com efeito de reconquistar o terreno perdido pelas classes dominantes desde o período subsequente à Segunda Guerra Mundial até à segunda metade da década de 70: nos serviços públicos, na segurança social, no direito do trabalho, etc.»
Etc…
Aqui vão, pois, algumas passagens significativas daqueles autores:
«A nova retórica reaccionária, longe de se apresentar em França como uma figura invertida da retórica progressista, adopta por conta própria o léxico do adversário. Os profetas do neoliberalismo, bem como os respectivos executantes políticos e aduladores mediáticos, todos se apresentam como «modernizadores», corajosos inovadores decididos a ultrapassar as «inércias», os «bloqueios», os «imobilismos» ou os «tabus» da sociedade francesa; exibem-se como reformadores, indomáveis adversários de todos os «conservadorismos», fervorosos partidários da «igualdade de oportunidades», resolvidos a lutar contra os «privilégios dos abastados» (a começar pelos dos funcionários públicos e, por extensão, de todos os que têm a singular regalia de «beneficiar» dum emprego estável); alardeiam-se como «realistas» capazes de afrontar de forma pragmática o mundo tal como ele é e as quimeras dos retrógrados defensores dum passado caduco; como resolutos adversários do desemprego (não «tentaram» eles tudo?); como defensores dos «excluídos» (os «out»), contra os corporativismos pusilânimes e os egoísmos nacionais (esses «in» que gozam de «emprego vitalício»), como internacionalistas, «abertos», adversários inflexíveis dos «encerramentos», das «protecções», dos «recuos soberanistas» e por aí fora.
(…)
«Deste modo, a direita neoliberal foi-se aos poucos apropriando da modernidade, da reforma, da solidariedade, do realismo, do internacionalismo, etc., esperando fazer passar uma operação perfeitamente reaccionária por um empreendimento progressista. Trata-se com efeito de reconquistar o terreno perdido pelas classes dominantes desde o período subsequente à Segunda Guerra Mundial até à segunda metade da década de 70: nos serviços públicos, na segurança social, no direito do trabalho, etc.»
Etc…