18 novembro 2007

 

Diálogos entre George Bush e Condoleeza Rice (2)

B.: Desculpa o atraso, mas depois do almoço fiz a minha sestazinha, um costume que trouxe do Texas de que eu não prescindo, e a seguir estive a ver um pouco do telejornal. Fartei-me de rir com aquela história do rei de Espanha a mandar calar o Chávez, bem feito, bem feito! Eu não gosto muito de reis, têm a mania de que são mais do que nós, os presidentes, mas este gajo tem to…, tem-os no sí…, bom, é rijo, é teso! E o Chávez ficou caladinho, se fosse comigo se calhar não se calava… Esse gajo tem de mas pagar! Lembras-te de quando veio à ONU e me chamou diabo e se persignou? Aqui mesmo na nossa América! Isto não pode ficar assim! O que achas que podemos fazer para o lixar?
R.: George, é preciso ter cautela!
B.: Dizes-me sempre o mesmo: cautela, cuidado! Caraças, não sou o presidente do mais poderoso país da Terra?!
R.: Bom, na Venezuela já tentámos alguma coisa, em 2002, não sei se está lembrado…
B.: Mal, muito mal. O que fizemos de facto?
R.: O que eu sei, pois nessa altura não era Secretária de Estado, é preciso ver, o que eu sei é que houve um apoio discreto a um golpe de estado que falhou. E depois desse falhanço as coisas pioraram, e de que maneira…
B.: Mas quem preparou as coisas? Por que falhou? Não andará aí o dedo do Dick, que só faz asneiras?! Esse gajo nem para caçador serve: acerta nos amigos, quando vai à caça! Vou averiguar, eu já não me lembro de nada!
R.: E entretanto a situação piorou muito não só na Venezuela, como em toda a América Latina: vários presidentes de esquerda foram eleitos…
B.: Há eleições nesses países? Bem, mas eu tenho o meu amigo do Brasil, o Lula, ou Lalu, nunca sei…
R.: Lula.
B.: Eu até devia melhorar o meu espanhol para falar com ele, ele ia gostar, por-que não fala inglês, sabes ele era um operário, mas agora mudou muito, já usa gravata e é muito realista, como ele diz.
R.: No Brasil não se fala espanhol. Fala-se português.
B.: A que propósito?
R.: Foram os portugueses que colonizaram o país.
B.: Francamente pensava que abaixo do Rio Grande todos falavam espanhol. O mundo é realmente muito complicado. Mas adiante. Não te parece que nos temos esquecido um bocado da América Latina? Dantes era só o Fidel, e já chegava. Mas agora há o Chávez. E tu dizes que há outros ainda. Aqui nas nossas barbas!
R.: Sim, talvez tenhamos dado uma prioridade excessiva ao Médio Oriente…
B.: Alto lá, menina, tu também estás metida até às orelhas nisto, não venhas dizer que não eras Secretária de Estado. Tu apoiaste a invasão do Afeganistão e do Iraque!
R.: “Invasão”?...
B.: Deixa-te de merdas, estamos a falar a sós, podemos chamar as coisas pelos seus nomes, porra! Desculpa, eu sou um pouco impulsivo, e também no palavrório. Sou do Texas, caraças, não sou um intelectualóide da Costa Leste! Tu és diferente, eu gosto de ti assim, mas és talvez um pouco…, não sei dizer, faltam-me muitas vezes as palavras…
R.: Ainda bem, quero dizer, não faz mal. Estávamos a falar de política internacional, da América Latina, do Médio Oriente…
B.: A propósito, e como está aquilo no Paquistão?
R.: Não está famoso, mas não podíamos fazer outra coisa…
B.: Lá estás tu: nós, os mais poderosos, estamos sempre de mãos atadas! Então para que servem os nossos arsenais nucleares e tudo o mais?
R.: George, esse não é precisamente o discurso do Dick?
B.: Esse gajo nem discursos sabe fazer! Bom, tu tem olho nesse Musharraf, eu não tenho confiança nele, além do mais é muçulmano! Não há muçulmanos bons. Muçulmano bom é muçulmano morto!
R.: George, esta sala não tem microfones, pois não?
B.: Tens alguma desconfiança?
R.: Não, mas espero que esteja tudo em segurança. De qualquer forma, é preciso ter o máximo cuidado com tudo, com todas as palavras que dizemos, em público, em privado, temos por vezes que dizer exactamente o contrário do que pensamos para arrefecer os ambientes, e tantas vezes o faço, para dar uma imagem mais favorável de nós ao mundo, porque nem sempre o forte pode usar a linguagem da força…
B.: Tens toda a razão! Eu é que sou impulsivo, sou frontal, mas também leal, foi por isso que os americanos me elegeram duas vezes, a primeira, é certo, com alguns problemas, mas eu correspondo exactamente ao americano médio, ao homem da rua, sou um homem do povo, orgulho-me disso… olhas-me de maneira estranha… não concordas comigo? Tu tens outro estilo, é claro, um estilo mais puritano, não te zangues, eu sei que o teu pai era pastor evangélico, mas não é só uma questão de estilo, tu és uma intelectual, uma mulher culta… Aliás, estou a ter uma ideia… Não te queres candidatar às próximas presidenciais?
R.: George, a herança é pesada. Quero dizer, o momento é muito difícil…
B.: Ouve lá: essa história da “herança pesada” tem a ver comigo? Estou a brincar, eu sei que tem! Não sou assim tão destituído. Mas não me zango contigo. Mas voltando ao assunto: tu és capaz de ser a única com hipóteses de ganhar àquela vaca da…
R.: George!
B.: À Hillary, quero dizer. Não me defendas essa gaja, por favor. É uma pretensiosa dos diabos, uma presunçosa, uma pedante, mas não vale nada, digo-te eu. Tu, com a tua calma e os teus conhecimentos ganhavas-lhe todos os debates!
R.: Mas perdia as eleições, porque sou negra!
B.: Não és bem negra, se fosses…, quero dizer…
R.: Diga!
B.: Bom, temos que acabar com todos os preconceitos na sociedade americana. Bem vês, eu sou do Texas e…
R.: Os preconceitos são ainda generalizados… Este país tem ainda muito que evoluir para atingir os ideais democráticos que os nossos fundadores elegeram como…
B.: Condy, minha querida, aonde vais tu?
R.: Fico por aqui.
B.: É melhor. Até porque são horas do meu passeio pelos jardins da Casa Branca com a Laura. Creio que hoje já não tenho mais nada marcado, de maneira que talvez possa até ver um pouco de televisão à noite… Uma daquelas séries do Oeste… o meu Oeste, mas para que me vim eu meter na capital?! Olha, mas vai pensando em tudo o que te disse! E retomaremos as nossas conversas privadas logo que possível.





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