29 outubro 2009
A alma portuguesa
O miserável nível em que tem decorrido o "debate" sobre as declarações de Saramago (de que é exemplo máximo o comentário de VPV), que aliás é a regra do debate público em Portugal, leva-me a formular a seguinte "prece" que peço emprestada a Pessoa, que não sei bem se era crente ou não.
PRECE
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
("Mensagem")
Precisamos realmente de um "sopro", de uma "aragem" que eleve a nossa alma, tão mesquinha, tão reles, tão pequena, tão portuguesa...
PRECE
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
("Mensagem")
Precisamos realmente de um "sopro", de uma "aragem" que eleve a nossa alma, tão mesquinha, tão reles, tão pequena, tão portuguesa...