22 outubro 2009

 

Talvez uma medalha para Saramago

Com a devida autorização, contribuo com mais uma acha para a «fogueira» da discussão à volta das declarações de Saramago com a publicação do texto que Manuel António Pina (MAP) publicou hoje no «Jornal de Notícias». Divergindo do que escrevi sobre o não se dever levar à letra o que disse o nosso prémio Nobel, MAP parte do pressuposto da leitura «literal» da Bíblia por parte de Saramago para o criticar e lhe dar um safanão cultural. O que, em boa verdade, significa que Saramago pôs toda a gente a falar sobre a Bíblia e Deus. Já não é pequeno mérito, mesmo do ponto de vista da Igreja e dos crentes. Saramago pode, afinal, continuar a ser português de lei e, se calhar, merecer até uma medalha pelos serviços prestados nesta área.
Mas vamos ao texto de MAP:




Saramago é crente
Saramago dizendo "Deus não é de fiar: é vingativo, é má pessoa" lembra-me as animadas conversas das empregadas domésticas nos autocarros a caminho do trabalho, revoltadas com a Ivone do "Caminho das Índias" e prontas para, dando com a actriz Letícia Sabatella na rua, tirarem desforço dela.
Saramago, afinal, é crente, e fundamentalista, levando a novela bíblica a peito e as "más práticas" de Deus (espécie de Ivone da Bíblia) à conta de literalidade. Não me admirava que, podendo, também o invectivasse ("Aquilo faz-se, meu malandro, mandar Abrãao matar Isaac?") e o espancasse se ele lhe aparecesse, como à Alexandra Solnado, no metro. Alguém que diga a Saramago que a Bíblia é um livro, uma narrativa (na verdade muitas e belíssimas narrativas, misturando verdade histórica e fábula), "escrita" há milénios por autor colectivo e anónimo a quem os cristãos, na parte que lhes toca, chamam Espírito Santo (como chamamos Homero a todos os gregos autores da "Odisseia"). Não é uma obra de História ou de Geografia, de Biologia ou de Astronomia. Era de supor que um romancista percebesse isso melhor que ninguém.





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