03 outubro 2010

 

Nesta apagada e vil tristeza

Eis mais um tremendo pontapé no chamado “Estado Social”. Este é o terceiro golpe vibrado naquilo que, segundo os analistas mais desassombrados (Sousa Tavares, Pulido Valente, etc.), era já um cadáver. Outros se seguirão até à morte definitiva. Depois de se começar e com o animal caído, o braço aniquilador é como que impelido pela dinâmica destrutiva a malhar mais e mais na vítima já exangue. O assédio vem de muito longe. A ideologia ultraliberal e a prática de um capitalismo selvagem, completamente à solta e sem barreiras que se lhe opusessem, foram preparando o terreno para isso. Cá dentro, como noutros países, aliás, o Estado Social não tem passado de bandeira (uma bandeira muito esfarrapada) de uma “esquerda” no poder completamente à deriva e em naufrágio. Na prática, já vinha minando os fundamentos desse Estado Social, depois de um cheiro de verniz, em que fingiu dar-lhe um restauro.
O representante da OCDE veio cá anunciar a última versão do purgante. Este, uma vez aplicado, foi acolhido festivamente pelos big bosses da União Europeia, mas logo apontaram a faca à necessidade de golpes mais profundos. É preciso continuar a cortar na carne das vítimas, para extirpar o abcesso de cuja sangradura aproveitam ainda os fautores da doença. A nevrose dos mercados financeiros tem de ser acalmada, caramba! E os mercados financeiros têm dentes muito afiados; são sedentos de muito sangue. São eles os terríficos vampiros dos tempos actuais a que é preciso render uma assustada vassalagem, para que não venham por aí morder-nos ainda mais o pescoço e sugar-nos o escasso sangue que ainda nos mantém de pé.
Na sequência desta vampirização, já se planeia cortar também nos salários dos privados, para que não sejam só os funcionários públicos a sofrer amputações. Escusado será dizer que o representante da CIP já veio esfregar as mãos de antecipada volúpia e dizer que tais cortes seriam bem-vindos em certos sectores, para estimular a concorrência internacional.
Que raio de tempos estes! E não há alternativa que se veja, uma alternativa que fosse capaz de varrer este lixo. Condições objectivas para uma mudança parece evidente que há, mas faltam líderes, faltam políticas, faltam ideias.
É neste cenário que vamos comemorar os100 anos da República. Uma república que é também uma bandeira esfarrapada.





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