16 abril 2012

 

Não há mais vinho para esta mesa

Num momento em que o nosso governo se prepara para adoptar umas quantas medidas austeras
relativamente ao álcool vem-me à cabeça uma história interessante relativamente à experiência que um amigo teve nos EUA há uns anos trás.
Estávamos nós no início da década passada, quando esse amigo me disse que ia estudar para a Califórnia em busca de uma experiência nova no quadro do doutoramento. Uma vez alojado e
devidamente integrado, havia que participar nas tão entusiasmantes festas privadas.
O pessoal junta-se na casa de um e cada qual leva umas cervejas. Por vezes basta aparecer com as ditas mesmo sem conhecer as pessoas. Ora assim ele fez.
Ainda cedo, passou por uma loja de conveniência e comprou um pacote de cervejas. Sendo o caminho longo, não hesitou em abrir uma delas na rua e começar a beber. Uma excelente ideia! - pensou ele. Mas não. Uma péssima ideia!
A polícia apareceu de rompante em dois carros-patrulha. Montou tamanho estardalhaço que ele chegou a pôr as mãos no capô de um dos carros, pensando que o perseguiam por um qualquer crime de homicídio. Segundo o que um dos agentes lhe disse, é proibido beber álcool na via pública e por isso seria multado. Ele bem tentou explicar que não conhecia a regra, mas desde quando isso é justificação? Foi a tribunal pedir clemência, mas não o pouparam a uma multa que dava para comprar 50 pacotes iguais de cerveja.
A Califórnia tem ideias bem formadas no que toca aos malefícios do álcool sobre a sociedade. Disse-me o meu amigo que eles consideram que a mistura de álcool e armas é explosiva - ensamento sensato - e que por isso a partir das 2h da madrugada é proibida a venda de álcool. A essa hora, nas discotecas encerram as torneiras alcoólicas, e os boémios estudantes transitam para o suminho de laranja. Nas lojas de conveniência também não se vende mais álcool a tais horas. E, para evitar a tentação, têm todas as bebidas alcoólicas atrás do balcão, fechadas atrás de
grades encerradas a cadeado. Assim, a partir das 2h, anda-se seguro nas ruas.
Não há álcool, só armas.
Ora seguindo este exemplo excelente, Portugal também quer reprimir o uso de álcool. Não pela
mistura com as armas, uma vez que por cá é menos comum, mas pela proteção da sociedade em geral. Para já está em formação uma proposta para impedir a venda de bebidas alcoólicas nas lojas de conveniência, outra para impedir os condutores de apresentarem uma taxa de alcoolemia superior a 0.2g/l e ainda outra para subir para 18 anos a idade mínima para consumo.
Temos um governo preocupado. Um verdadeiro pai para nós! Impede que os nossos filhos se
encharquem às escondidas e que os pais caiam na tentação de ir às lojas de conveniência para prolongar pela noite dentro as reuniões com amigos, e que na estrada apanhemos os bêbados que se emborracharam com meia cerveja ao jantar.
Só não entendo porque nos coloca os filhos no desemprego, porque que nos tira os subsídios, porque nos manda tratar as mazelas no sistema de saúde privado, porque nos gasta as reformas para tapar os seus buracos, porque nos aumenta o custo da alimentação.

Filipe Costa





<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?


Estatísticas (desde 30/11/2005)