26 maio 2014

 

O povo nunca se engana (?)

Os resultados das eleições de ontem são de análise relativamente simples: o governo (digamos assim para simplificar) ultrapassou sofrivelmente o teste... É inacreditável como um governo com uma política que basicamente prejudicou e empobreceu a grande maioria da população consegue um resultado acima dos 25%... Concordância ou resignação do povo? Mas que alternativa credível se apresentava? Esse é o ponto. Não há alternativa em Portugal... O PS é a continuidade, e aliás não consegue descolar dos partidos do governo. A CDU cresceu um bocadinho, mas isso altera alguma coisa? Enquanto não houver uma frente de esquerda com um programa mínimo que convença que pode vencer e que representa outra coisa, o eleitorado não se mobilizará sequer para ir votar em força... Já se sabe que a esquerda em Portugal é sectária e suicidária. Nem sequer foi possível fazer uma aliança entre o Livre, o BE e outras forças... A esquerda em Portugal nunca aprende. Para o ano teremos mais do mesmo: uma esquerda pulverizada, um PS medroso rendido a uma aliança dentro do "arco da governação", a tocar a mesma música... Isto na hipótese de o PS conseguir ficar em 1º, o que não é certo... Mas o mais interessante das eleições ontem foi sem dúvida a votação no "Partido da Terra"... De uma votação de 0,7 passou para 7,2%! O eleitorado deixou-se encantar com o programa eleitoral do partido? Não, ninguém conhecia tal programa, nem sequer alguma proposta concreta. O dito partido não tinha programa, tinha Marinho Pinto, que vale, para já, cerca de 7% do eleitorado, mesmo sem qualquer proposta concreta, sem qualquer ideia sobre a Europa ou Portugal... Notável! Um voto completamente em branco do eleitorado. A desilusão leva as pessoas a estas apostas no escuto. Pior ainda em muitos países da Europa, em que o descontentamento se manifesta na adesão aos partidos de extrema direita e xenófobos. Aqui, para já, temos este epifenómeno que valerá a pena analisar. Um sujeito subitamente desempregado, mas com largos contactos, conhecidíssimo do "povo" pela sua presença assídua, obsessiva, na TV na última década, bem falante, dizendo ao "povo" as coisas mais básicas e ocas, mas "populares", evitando completamente o compromisso com qualquer programa político, com qualquer projeto concreto, muito menos com qualquer ideologia que não seja um vago "humanismo" despolitizado, compondo e enfatizando um discurso assente apenas em pressupostos "morais", tal sujeito faz um pacto com um partido que encontra a uma qualquer esquina, um partido que se chama da Terra, mas que poderia ser do Mar, que ninguém conhece apesar de já se ter apresentado a eleições várias vezes, e fazem um contrato, válido por uma época eleitoral, no interesse de ambos. E ganham a aposta. O povo vai votar no sujeito, evidentemente, não no partido. Vamos ver se haverá revalidação do contrato. É duvidoso. O sujeito é muito maior que o partido... Agora terá talvez de dizer algumas coisas mais concretas. Mas talvez não. Ninguém sabe o que fazem os deputados no Parlamento Europeu. Se o povo soubesse, o Livre, com Rui Tavares, teria suplantado em muito o partido da Terra... E dizem que o povo nunca se engana...





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