19 maio 2016

 

O pacto do ensino


Há dias ouvi, na rádio, uma habitual colaboradora dizer que a questão do ensino não podia estar sujeita às flutuações de cada governo que estivesse a exercer o poder. Tinha de ser objecto de um pacto alargado entre as forças políticas. Referia-se, como é evidente, à polémica surgida a propósito dos contractos de associação com os colégios privados.

Como o problema surgiu com as medidas tomadas pelo novo governo nesse âmbito, o facto que despoletou a observação da colaboradora foram essas mesmas medidas, como se elas tivessem vindo alterar um estado de coisas que, em princípio, devesse ser respeitado em nome da estabilidade.

Ora, o que se impõe perguntar é o seguinte: não foi o anterior governo que começou por alterar um estado de coisas existente, ensaiando uma política de protecção de certos sectores do ensino privado com desvantagem para o ensino público, indo para além dos limites que a Constituição consente, no que diz respeito ao emprego dos recursos públicos em matéria de ensino e em virtude dos quais o ensino privado deve ser subsidiário do ensino público, suprindo carências deste, onde elas existam e enquanto existirem? E não o fez no último ano do seu mandato, como aliás aconteceu noutros domínios fundamentais, projectando as suas consequências para um futuro que poderia já não ser o da continuação da sua política, tão marcada por uma determinada visão ideológica?

Pois se assim é, então o governo anterior é que deveria ter respeitado o “pacto constitucional” – único que se impõe respeitar e ao qual todos os outros se devem submeter.





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