15 janeiro 2006

 

O «Que é a verdade?» (*)

Depois das indignações, no pós 24 horas, independentemente dos esforços de alguns lerem os factos (por exemplo aqui, aqui e aqui), parece que afinal o que mais importa não é identificar o causador, e os propagadores, da devassa (inequívoca e muito grave, mesmo que não confundível com escutas telefónicas, apesar do que dizem, nos seus habituais contributos cívicos, alguns dos ilustres juristas da nossa «praça»).
De qualquer modo, as perguntas / respostas de J. M. Fernandes no seu editorial de sábado são (uma vez mais) de antologia, pelo que merecem ser destacadas neste modesto canto, por particularmente esclarecedoras:
a) Sobre a ética pessoal de quem não «espreita através de fechaduras»: «O Público também acedeu ontem aos ficheiros informáticos onde, para além das chamadas realizadas a partir de dezenas de outros telefones. Eu próprio tenho, no meu computador, uma cópia desses ficheiros»;
b) Sobre as regras de direito probatório, para evitar um «non liquet» na falta de provas há sempre convenientes presunções «Foi então um erro involuntário da operadora de telecomunicações? Ou correspondeu a um pedido informal e ilegal da investigação?»;
c) Sobre a congruência lógica, à maneira dos velhos tempos da «Voz do Povo», primeiro diz-se: «O que ali está é pior do que ter espreitado a uma fechadura: é tê-lo feito e, depois, ter deixado “distraidamente” as fotografias ao alcance de todos» (parece que há quem para não ter de espreitar opte por copiar para o computador pessoal); mas depois pergunta-se: «os investigadores olharam para todas essas chamadas, ou eram tão analfabetos do ponto de vista informático que nem reparam que estavam lá registadas?» (então espreitaram ou não? Se leram apenas a informação imediatamente visível, a única que terá sido pedida, é porque são analfabetos... informáticos! E então como catalogar quem para ler um ficheiro de um programa corrente necessita de recorrer a um técnico informático?).

PS- Na abordagem de elevadas considerações sobre a devassa e preservação dos direitos individuais há quem faça questão de através de ratos, ratazanas, deneuves, e quejandos, não perder nenhuma oportunidade para revelar racionalidade e ética na comunicação, até porque é necessário reiterar manifestações inequívocas de elegância (felizmente tento não confundir certos personagens da blogosfera com grupos profissionais, políticos ou outras congregações, pois caso contrário teria muita dificuldade em dormir descansado).


(*)«Pilatos replicou-lhe: “Que é a verdade?”» (Jo 18: 38)





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