06 fevereiro 2006

 

Match Point

Às vezes não convém mesmo saber a verdade, nem tão pouco interessa aprofundar seja o que for, sequer as relações que se vão estabelecendo e mantendo ao longo de anos.
A vida vai deslizando, rolando ao sabor de uma artificial já natural defesa, necessária no dia a dia, para evitar surpresas que subtilmente podemos chamar de desagradáveis, aborrecidas ou incómodas.

Tudo se passa com uma aparente harmonia, como se todos «ganhassem» ou «perdessem», de uma forma indefinida, quase desinteressada, sem significado, mas compensatória mesmo em mundos diferentes.

Comportamentos socialmente correctos, polidos, acessíveis a qualquer pessoa, sabiamente representados, no aparente respeito das regras do jogo de cada grupo ou classe numa sociedade sem classes. Sim, mesmo no “grande-pequeno” circulo em que cada um se move, com muita ou pouca “sorte” pode encontrar pessoas que são assim mesmo, atraídas só pela vida social a que aspiram avidamente, sempre agradáveis, que encantam, seduzem, até ocorrer aquele «clic», consoante o «gosto» e a «exigência» de cada um…

É a natureza humana. A vida boa que deslumbra… quantas vezes reduzida ao plano material que atrai irresistivelmente… quer mesmo para quem nega a materialidade, quer para quem tem a ambição desmedida.

É o fascínio pela sociedade de consumo, pela visibilidade, pelas mordomias que se interiorizam e se vendem de tal modo que se tornam imprescindíveis, havendo sempre quem esteja disposto alcançar tudo isso a qualquer preço. Então, não há sentimento que resista, a não ser aquele que convenientemente serve os próprios interesses.

Tudo o que dá prazer é aceite, vivido intensamente, até se tornar inconveniente, altura em que inevitavelmente terá de ser eliminado para que a vida siga o seu rumo sem sobressaltos.

A humanidade é assim mesmo, feita de coisas boas e de coisas más, por vezes dependendo da habilidade e da perícia do jogador, como a bola que vai e vem, que às vezes toca na rede e, momentaneamente, não sabemos em que lado cai. Mas, o “acaso” acontece, a gravidade tem o seu peso e tudo parece «encaixar» para quem quiser viver sem se preocupar em aprofundar.

Match Point pode ser assim, no seu habilidoso argumento tão sedutor. É Woody Allen no seu melhor.





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