10 junho 2009

 

Ainda as eleições europeias

As eleições para o Parlamento Europeu vieram mostrar, por todo o lado, o desinteresse dos cidadãos nacionais dos vários países pelas questões de política europeia. Com efeito, o graande vencedor das eleições foi a abstenção. O caso não é específico de Portugal. Isto não significa só que os cidadãos dos diversos países que fazem parte da União se manifestaram, por meio da abstenção, sobretudo contra as políticas nacionais, confundindo estas com as políticas europeias e fazendo repercutir nas recentes eleições o descontentamento de uma crise que, atingindo todos os países de uma forma mais ou menos intensa, é exterior a eles e, de certo modo, à própria Europa. A explicação de muitos opinadores passa por aí, mas não me parece correcta. Primeiro, porque a crise, em muitos casos, como em Portugal, tem também raízes nacionais específicas e já pré-existente à crise financeira global. Em segundo lugar, a Europa também não é alheia à crise, ou seja, às suas causas, quer no que diz respeito à crise global, quer sobretudo no tocante ao afastamento das instituições europeias dos cidadãos da Europa e seus reais problemas.
As políticaas europeias que têm sido implementadas são hostis ao objectivo de uma Europa social e dos direitos da esmagadora maioria dos seus cidadãos, estando muitas vezes na origem da adoção de políticas nacionais agravadoras da situação económica e social dos respectivos cidadãos,mormente na área laboral e do mercado do emprego. As instituições políticas, económicas e financeiras europeias não raro manifestam um olímpico distanciamento dos problemas dos chamados «cidadãos europeus» e um desprezo por regras de participação democrática elementares.
Neste clima, os cidad~~aos da Europa não têm confiança nessas instituições, mormente no Parlamento Europeu, sendo frequente ouvir-se dizer que este não serve para nada. Assim, não admira que os eleitores primem pela abstenção. O dramático e paradoxal é que os partidos que, «por natureza», mais contribuem para o adensamento dessa política de agravamento social e para a liquidação de uma Europa solidária e dos cidadãos sejam os têm ganho cada vez ais terreno no território europeu, onde campeiam personalidades políticas, como Berlusconi, que ultrapassam todos os limites da ficção mais grotesca que possa conceber-se.





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