25 maio 2010
O senhor X
«No meio da borrasca não é conveniente mudar a tripulação. Mas essa advertência não deve fazer esquecer que, fiel a si mesmo, X evitou reconhecer a sua própria responsabilidade na situação. O recurso ao ultimatum vindo do exterior permite-lhe afirmar que se tratou de uma decisão dolorosa, alheia às suas convicções. (…) Como representação, não está mal. Só que tal atitude é censurável, porque faltou algo fundamental: uma explicação franca à opinião pública das causas do fracasso e das dimensões da actual deriva da economia. (…) Supostamente ninguém ignora a incidência da crise internacional, nem que foram as circunstâncias internacionais que forçaram à situação. Mas é lamentável ter que recorrer a outras fontes de informação para se ter uma ideia do abismo em que caímos. O discurso oficial refugia-se em generalidades e no facto de toda a Europa sofrer vicissitudes semelhantes. Falso.
Ademais, se chegámos a este ponto e com dimensão tal que a nossa situação se converteu na principal ameaça para a Europa, foi porque desde há dois anos o governo seguiu uma política económica baseada na negação persistente da nossa crise. (…) Não se tratou de erros parciais, mas de imperícia, agravada pela prática de uma manipulação informativa que se manifestou desde o momento em que X decretou a inexistência da crise (…) e impôs essa inexistência aos seus colaboradores. (…) Desde a desaceleração de 2008 até hoje, X acumula medidas aos solavancos, agora uma por semana, sem ter nunca uma visão de conjunto. Procura a linha de menor resistência, funcionários e pensionistas. Até agora intocáveis os maiores rendimentos, também estes serão tocados como medida imprescindível para repintar a fachada progressista. Os bancos, felizes em todo o processo. X não pensa, nem faz contas. Decide. Nem social-democracia, nem racionalização. Sobra a sua grande habilidade para a manobra. Também a couraça da disciplina imposta sobre o Partido. Substituí-lo será quase missão impossível. A defesa da própria liderança é para X um fim essencial, o seu fim (…)»
PS – Trata-se de uma tradução da minha autoria (não inteiramente literal numa ou noutra passagem) de um artigo publicado no “El País” de sábado passado e assinado pelo habitual cronista Antonio Elorza. Quem será este senhor X? Evidentemente, é uma incógnita da minha própria responsabilidade, para dar mais mistério ao escrito. No artigo, é Zapatero, ou simplesmente ZP. Mas digam-me: adivinharam de quem se tratava?
Ademais, se chegámos a este ponto e com dimensão tal que a nossa situação se converteu na principal ameaça para a Europa, foi porque desde há dois anos o governo seguiu uma política económica baseada na negação persistente da nossa crise. (…) Não se tratou de erros parciais, mas de imperícia, agravada pela prática de uma manipulação informativa que se manifestou desde o momento em que X decretou a inexistência da crise (…) e impôs essa inexistência aos seus colaboradores. (…) Desde a desaceleração de 2008 até hoje, X acumula medidas aos solavancos, agora uma por semana, sem ter nunca uma visão de conjunto. Procura a linha de menor resistência, funcionários e pensionistas. Até agora intocáveis os maiores rendimentos, também estes serão tocados como medida imprescindível para repintar a fachada progressista. Os bancos, felizes em todo o processo. X não pensa, nem faz contas. Decide. Nem social-democracia, nem racionalização. Sobra a sua grande habilidade para a manobra. Também a couraça da disciplina imposta sobre o Partido. Substituí-lo será quase missão impossível. A defesa da própria liderança é para X um fim essencial, o seu fim (…)»
PS – Trata-se de uma tradução da minha autoria (não inteiramente literal numa ou noutra passagem) de um artigo publicado no “El País” de sábado passado e assinado pelo habitual cronista Antonio Elorza. Quem será este senhor X? Evidentemente, é uma incógnita da minha própria responsabilidade, para dar mais mistério ao escrito. No artigo, é Zapatero, ou simplesmente ZP. Mas digam-me: adivinharam de quem se tratava?