12 novembro 2010

 

Os mercados internacionais


Será mesmo uma fatalidade a dependência da dívida pública dos mercados internacionais? Há quem entenda que não. Frédéric Lordon, num artigo no Le Monde Diplomatique de Maio deste ano (“E se começássemos a desglobalização financeira?") ensaia uma tentativa de o demonstrar. Exemplifica com o caso japonês. Pergunta ele: «Como poderá entender-se que o detentor da maior dívida pública do mundo, ainda por cima atormentado por uma aparentemente mais degradada solvabilidade (se tomarmos o seu rácio do PIB como a sua medida sumária) esteja a ser tão ignorado pelos investidores internacionais? A resposta simplicíssima é esta: porque os investidores internacionais não são os subscritores da dívida pública japonesa. Esta é detida, a mais de 95% pelas poupanças nacionais. O Japão, exactamente ao contrário dos Estados Unidos, exibe uma avultada taxa de poupança das famílias que é largamente suficiente para cobrir as necessidades de financiamento do Estado e, além disso, das empresas. Mais ainda, os mercados não são solicitados pela dívida pública japonesa – que passa muito bem sem eles -, nem têm a possibilidade, consequentemente, de submeter a política económica do Japão às suas regras absurdas. Para que os mercados possam ingerir nesta matéria, é preciso que tenham o instrumento para o fazer, a saber, os títulos da dívida. Sem detenção não há ingerência.»
Depois de considerar os mecanismos de uma orientação prioritária da poupança nacional para títulos da dívida pública, escreve a dado passo:
«(…) a desglobalização do financiamento dos défices teria sobretudo um imenso mérito, cujo sentido se tornou totalmente estranho ao entendimento dos economistas (ortodoxos): um mérito político e democrático. Renacionalizar a questão do financiamento equivale a libertá-la de um terço dos investidores internacionais e a reintegrá-la inteiramente no contrato social nacional, restituindo ao corpo político a capacidade de arbitrar os conflitos que a questão necessariamente suscita. Como bem mostraram Bruno Tinel e Frank Van de Velde, o conflito geracional oportunamente avançado, em tom lamuriento, da «dívida que vamos legar aos nossos filhos» serve sobretudo para mascarar o conflito fundamental, e perfeitamente contemporâneo, que existe entre os menos ricos que com os seus impostos pagam o serviço da dívida e os mais ricos que detêm os títulos da mesma.»





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