20 junho 2012
A linguagem-máscara
A luta que se
prossegue nos terrenos político, económico e social também não prescinde do aggiornamento da linguagem, para usar um
termo bonito e brando. A linguagem é mesmo um dos veículos privilegiados da
visão que se pretende imprimir das coisas, no confronto ideológico latente na
sociedade. Ela é, a esse título, parte desse confronto, que, apesar de tudo, se
tenta apagar através dela. Há dias, falei de um termo em voga dessa
linguagem-máscara: flexibilização. No
sábado passado, no Público, Pacheco
Pereira falou de outro: ajustamento. Diz
ele: «Nenhuma palavra traduz melhor os tempos que atravessamos do que
“ajustamento”. Em vez de se dizer que se cortam salários, diz-se que se
“ajustam” salários. Em vez de se dizer que se despede, diz-se que se “ajusta” a
mão-de-obra. Em vez de se dizer que se aumentam os impostos e se cortam
despesas, diz-se que se “ajusta” o orçamento», etc.