29 junho 2018
O TEDH
A propósito de decisão recente deste alto tribunal que condenou Portugal eu apenas quero assinalar o respeito com que as decisões desse tribunal são recebidas na imprensa portuguesa, como se representassem a expressão de um juízo incontestável, incontrolável, quase divino...
Ora, o TEDH não é infalível (como é, ou era, o Papa), não está acima da crítica, como aliás todos os tribunais. Pode ser criticado, e pode mesmo errar, como acontece com os tribunais nacionais. A jurisprudência do TEDH não é propriamente o Evangelho do direito e os seus juízes também não são santos evangelhistas. São apenas os humanos depositários da aplicação da Convenção Europeia dos Direitos do Homem. E a interpretação que fazem da mesma, como obra humana e não divina, é suscetível de análise crítica.
Como é evidente.
Ora, o TEDH não é infalível (como é, ou era, o Papa), não está acima da crítica, como aliás todos os tribunais. Pode ser criticado, e pode mesmo errar, como acontece com os tribunais nacionais. A jurisprudência do TEDH não é propriamente o Evangelho do direito e os seus juízes também não são santos evangelhistas. São apenas os humanos depositários da aplicação da Convenção Europeia dos Direitos do Homem. E a interpretação que fazem da mesma, como obra humana e não divina, é suscetível de análise crítica.
Como é evidente.
28 junho 2018
José Tolentino de Mendonça
A escolha pelo Papa deste padre/poeta português para bibliotecário do Vaticano é uma distinção que honra Portugal e que para mim vale muito mais do que os cargos que alguns políticos têm arranjado na "Europa" ou em instâncias internacionais (exceciono apenas Guterres).
Do recente "Teoria da Fronteira", tendo como pano de fundo os "sans papiers", transcrevo, com a sua autorização presumida, este poema tão atual nos dias que passam:
O barco partido
Os corpos são geografias deslocadas
correntes em fuga do que primeiro é visível
os corpos velam sobre uma passagem
e por vezes regressam para dizer
em que medida somos
fragmentos e fantasmas de outros corpos
imagino o meu descendo no escuro
um bote atirado à solidão
ensaiando ao mesmo tempo
uma liturgia e um naufrágio
para o qual tive sempre apenas espanto
e jamais respostas
Do recente "Teoria da Fronteira", tendo como pano de fundo os "sans papiers", transcrevo, com a sua autorização presumida, este poema tão atual nos dias que passam:
O barco partido
Os corpos são geografias deslocadas
correntes em fuga do que primeiro é visível
os corpos velam sobre uma passagem
e por vezes regressam para dizer
em que medida somos
fragmentos e fantasmas de outros corpos
imagino o meu descendo no escuro
um bote atirado à solidão
ensaiando ao mesmo tempo
uma liturgia e um naufrágio
para o qual tive sempre apenas espanto
e jamais respostas
MRS na Casa Branca
Há que reconhecer: ontem o PR português deu um baile ao Donald na própria casa deste, a Branca.
Recostado no cadeirão, de perna traçada (até parecia ele o residente naquela habitação), enquanto o Donald rigidamente sentado na ponta da cadeira o olhava embasbacado, MRS comunicou didaticamente ao Donald diversas coisas, entregou-lhe cumprimentos do Putin e lembrou-lhe que terá de o visitar brevemente, depois passou para o Mundial, falou-lhe do Ronaldo, e quando o Donald quis fazer uma piada, dizendo que se MRS concorresse contra o Ronaldo à presidência seria este a ganhar, MRS, mais uma vez didaticamente, explicou-lhe que "Portugal não é os Estados Unidos", resposta cuja subtileza não sei se o Donald percebeu, pois ficou mudo e sem expressão, possivelmente a ruminar uma resposta que não conseguiu formular atempadamente...
É caso para dizer que por este bocadinho valeu a pena a visita (e a inerente despesa) do nosso PR aos EUA. Ele ontem deu baile ao mastodonte do Donald no seu reduto...
Recostado no cadeirão, de perna traçada (até parecia ele o residente naquela habitação), enquanto o Donald rigidamente sentado na ponta da cadeira o olhava embasbacado, MRS comunicou didaticamente ao Donald diversas coisas, entregou-lhe cumprimentos do Putin e lembrou-lhe que terá de o visitar brevemente, depois passou para o Mundial, falou-lhe do Ronaldo, e quando o Donald quis fazer uma piada, dizendo que se MRS concorresse contra o Ronaldo à presidência seria este a ganhar, MRS, mais uma vez didaticamente, explicou-lhe que "Portugal não é os Estados Unidos", resposta cuja subtileza não sei se o Donald percebeu, pois ficou mudo e sem expressão, possivelmente a ruminar uma resposta que não conseguiu formular atempadamente...
É caso para dizer que por este bocadinho valeu a pena a visita (e a inerente despesa) do nosso PR aos EUA. Ele ontem deu baile ao mastodonte do Donald no seu reduto...
27 junho 2018
Super Trump
(Olhando
a capa da Revista Time
que exibe a foto de uma criança de dois anos diante do presidente
dos USA)
Trump
olha para a criança do alto da sua vastidão incomensurável. A
criança está muito lá para baixo, mal lhe chega aos joelhos, olha
para ele com a cabeça toda inclinada para trás, como se olhasse
para uma torre. Chora, porque perdeu a família na fronteira; a
polícia levou-lhe os parentes e deixou-a a ela só, debulhada em
lágrimas, perdida, desorientada.
Trump
olha para a criança com a cabeça ligeiramente inclinada para baixo,
um sorrisinho forçado estampado no rosto, a longa gravata pendente
do pescoço. Olha para a criança lá muito do alto. Pensa que é o
presidente dum grande país e que não pode inclinar-se demasiado,
muito menos baixar-se. Não quer transmitir a imagem dum avozinho de
sentimentos moles, mas também não quer parecer inteiramente cru.
Tem um sorrisinho de meias tintas. Intimamente, pensa que é o senhor
dum império e que aquela criança vem dum outro mundo, um mundo de
escala ínfima, talvez Liliput. Ele, Trump, poderia esmagar a
criança, como uma formiguinha, debaixo do seu enorme sapatão, mas
seria uma acção demasiado feia para um presidente global, que pode,
se quiser, carregar num botão e limpar da superfície da Terra povos
inteiros. Poderia também, se quisesse, tirar a gravata, desfazer-lhe
o nó e transformá-la em corda com que guindasse a criança até ao
alto da torre onde tem a sua cabeça, mas seria perder a
verticalidade de compostura, metaforicamente falando, embora não
tivesse que dobrar a coluna vertebral até ao sítio onde está o
petiz. Além disso, não entende a língua em que este fala, nem a
língua em que chora. Talvez possa resolver o problema sem ter que
enfrentar estes dramas alienígenas, dramas tão ínfimos, mas que
moem a paciência dum presidente dos States.
A
criança chora, desnorteada, olhando para cima, e sente que lhe falta
uma escada para chegar àquele gigante que não se move, àquela
torre que está infinitamente acima da sua cabecita – a Torre
Trump.
21 junho 2018
Eis o Mundial
Temos
agora futebol durante 24 horas por dia. Praticamente não há mais
nada que mereça a atenção dos media.
Sobretudo
a rádio e a televisão. Transmissão de jogos, espaço informativo
dos noticiários e telejornais, noticiários extra, comentários,
tudo isto de manhã à noite, sem descanso, varrendo ou obscurecendo
tudo o mais que vai sucedendo neste nosso mundo, redondo como uma
bola de futebol.
Bem
sei que estamos no Mundial e que as equipes, constituídas
tendencialmente por nacionais dos respectivos países (digo
“tendencialmente”, porque, por vezes, parece haver um certo
contorcionismo nisto da atribuição da nacionalidade a certos
jogadores) simbolizam os países de onde provêm e adquirem uma
dimensão nacional. É o liame afectivo que nos prende ao torrão
natal que nos faz vibrar em cada partida onde se joga a nossa
reputação e a nossa bravura, digamos assim. Mas isso não significa
que se deva reduzir o mundo todo à escala do futebol.
Embora
careçamos dos grandes feitos de outrora capazes de nos alçarem aos
cimos da glória, não vamos agora transformar o futebol no grande
empreendimento nacional, com Ronaldo, de certo o melhor jogador do
mundo, não duvido, a fazer as vezes de Vasco da Gama (ou mais do que
isso, mais do que isso). E deixem-me que lhes diga: aquela voz de um
relatador de futebol que aparece na rádio a gritar, arroubada,
desmanchada, tresloucada, Obrigaaaaado, Ronaaaldo
é uma vergonha.
08 junho 2018
Mais um desaparecimento misterioso
Continuam a desaparecer coisas dos sítios que em princípio deveriam estar mais bem guardados. Agora foi uma medalha do Museu da Presidência. O PR, que tanto comentou o caso de Tancos, ainda não abriu a boca sobre este caso passado "dentro de portas"... Claro que não é ao PR que incumbe guardar as medalhas. Mas estava o ministro da Defesa encarregado de guardar os paióis? Tinha "responsabilidade política" por essa guarda? E quem tem a responsabilidade política pela guarda do Museu da Presidência?
05 junho 2018
Carlucci, garante da democracia em Portugal
Segundo o pensamento dominante na comunicação social Carlucci é o grande responsável pelo triunfo da democracia em Portugal. (Não será um exemplo típico de "pós-verdade"?)
Pena é que não tenha chegado a Portugal mais cedo, no tempo de Salazar. Mas teria então colaborado com os amigos "mencheviques" com o mesmo objetivo?
Pena é que não tenha chegado a Portugal mais cedo, no tempo de Salazar. Mas teria então colaborado com os amigos "mencheviques" com o mesmo objetivo?
04 junho 2018
Eslovénia: o homem certo no lugar certo
Na Eslovénia ganhou as eleições um partido presidido por um ex-primeiro ministro condenado por corrupção...
Agora, pelas mãos do povo, volta para o lugar certo para continuar a sua carreira...
O povo é quem mais ordena. E, como dizia o saudoso Mário Soares, o povo nunca se engana.
Agora, pelas mãos do povo, volta para o lugar certo para continuar a sua carreira...
O povo é quem mais ordena. E, como dizia o saudoso Mário Soares, o povo nunca se engana.