19 abril 2006
A tortura à luz da epistemologia
A notícia já tem alguns dias, E. Prado Coelho já a comentou sagazmente, mas também quero dizer qualquer coisa.
Segundo a notícia vinda no Público de 9 deste mês, um professor americano de economia (ah, estes professores de economia, os oráculos dos tempos modernos!) publicou um estudo numa revista de epistemologia (de epistemologia, acentue-se) sobre a fiabilidade da tortura, ou seja, sobre o magno problema de saber se a tortura funciona, isto é, se leva o torturado a falar verdade. E conclui, muito cientificamente (e talvez melancolicamente) que a tortura não é um meio eficaz de obter informações verdadeiras.
É realmente revelador do "estado mental" do povo e mesmo das elites americanas que a tortura seja analisada não de um ponto de vista político, ético ou jurídico-criminal, mas como matéria do foro epistemológico. Que seja encarada não como objecto de censura, de condenação, de perseguição dos seus autores e promotores, mas como tema "científico", asséptico, em que é posta entre parênteses toda a violência e ignomínia imposta ao torturado, em benefício da análise "objectiva" da utilidade e eficiência do "método". E a conclusão não é menos reveladora: a tortura afinal não é eficaz, por isso não vale a pena utilizá-la, porque se o fosse...
Segundo a notícia vinda no Público de 9 deste mês, um professor americano de economia (ah, estes professores de economia, os oráculos dos tempos modernos!) publicou um estudo numa revista de epistemologia (de epistemologia, acentue-se) sobre a fiabilidade da tortura, ou seja, sobre o magno problema de saber se a tortura funciona, isto é, se leva o torturado a falar verdade. E conclui, muito cientificamente (e talvez melancolicamente) que a tortura não é um meio eficaz de obter informações verdadeiras.
É realmente revelador do "estado mental" do povo e mesmo das elites americanas que a tortura seja analisada não de um ponto de vista político, ético ou jurídico-criminal, mas como matéria do foro epistemológico. Que seja encarada não como objecto de censura, de condenação, de perseguição dos seus autores e promotores, mas como tema "científico", asséptico, em que é posta entre parênteses toda a violência e ignomínia imposta ao torturado, em benefício da análise "objectiva" da utilidade e eficiência do "método". E a conclusão não é menos reveladora: a tortura afinal não é eficaz, por isso não vale a pena utilizá-la, porque se o fosse...