01 outubro 2014
Mais democracia participativa?
Também
tenho muitas dúvidas sobre a mais valia democrática que processos como o das
primárias possam trazer aos partidos e à renovação democrática que possam
implementar na sociedade. Desconfio. Acho que é mais uma moda. E realmente
podem ter o efeito contrário ao apregoado, isto é, em vez de enriquecerem,
podem empobrecer o debate democrático. Por sinal, o debate (ou a pugna) entre
António Costa e António José Seguro não me esclareceu nada. Quanto ao
essencial, fiquei na mesma. Que diferenças os separam, não vi bem, para além de
estilos diversos: o António Costa aparentemente mais descontraído, camisa
aberta sem gravata, a voz mais bem colocada, augurando, talvez, um melhor
desempenho oratório e uma melhor presença nos confrontos verbais com a oposição, coisa que não lhe
servirá de muito para já, uma vez que não vai estar no Parlamento, e também um
maior poder de galvanização; o António José Seguro mais contraído, mais
ressentido, mais engravatado (no próprio dia das eleições, o Costa apareceu de
calças de ganga e camisa, o António José Seguro, de fatinho e gravata, bem
entalada em colarinhos bem engomados, como num domingo de missa, enfim, sinais
que marcam diferenças - porventura as
que serão relevantes - e que poderão ser objecto de um agradável estudo
semiológico).
Mas,
para além disso, não vi realmente mais nada, a não ser a luta fratricida a que
se entregaram os candidatos.
Bem
sei que os partidos são estruturas herdadas do século XIX e que entraram no
caminho da fossilização, quando não em caminhos mais ínvios, aumentando a olhos
vistos a distância que os separa dos cidadãos eleitores. Nada permanece igual e
eles (os partidos), a continuarem a ser instrumentos imprescindíveis na
democracia, têm que evoluir e, mesmo, transformar-se radicalmente, em
sociedades que vão dando sinais de aparecimento de outras formas de intervenção
social e política. Mas será que este método das primárias aprofundará mesmo a democracia
participativa, como aventou hoje, no fórum da TSF, o Professor Boaventura de
Sousa Santos, que, todavia, preveniu para os seus perigos? Esperemos para ver.
(Escrito
no dia 30/09 à noite e publicado no dia 1/10, por esquecimento da
palavra-passe. Desgaste inevitável da memória e falta de uso do blogue nos
últimos tempos)