16 abril 2019
Para o fogo não há sagrado nem profano
Notre
Dame. Não sei o que dizer sobre o caso. Foi uma tragédia. É tudo.
Há ocasiões em que as palavras não acrescentam nada e até ficam
aquém do que o silêncio pode dizer. É uma perda, sem dúvida, e
uma grande perda. E também uma pena. As cidades têm uma identidade,
como as pessoas. Não se consegue imaginá-las sem um determinado
cenário, sem este ou aquele edifício simbólico, que, do fundo da
sua vetustez, se nos abre como um livro a atestar um passado que foi
o dos nossos antepassados e é também o nosso, e a assinalar aos
vindouros a passagem fugaz das gerações passadas e presentes pelas
pedras mudas do seu chão, das suas paredes, das suas torres. E daí,
talvez, seja essa precariedade dos próprios edifícios-símbolo,
afinal sujeitos à contingência e ao acidente, que os torna mais
próximos da nossa humanidade e, por isso, mais receptivos a que as
sucessivas gerações lhes vão apondo um sinal do tempo que foi o
seu.