29 julho 2016
As desejadas sanções
Há muita gente do
anterior governo e adeptos que devem ter-se sentido completamente decepcionados
com a decisão da Comissão de aplicar sanções zero a Portugal. Eles estavam
mortinhos que a facção mais troglodita de Bruxelas conseguisse levar o seu
vampirismo para a frente e fazer recair sobre o país uma sanção visível, mais
ou menos forte.
O arrastar da coisa no
tempo não foi por acaso; tinha como objectivo, da parte de algumas almas
sinistras, punir o actual governo português pela sua política, mascarando as suas
intenções com o argumento de que ele (governo actual) não estava a tomar
medidas para corrigir o défice e, pelo contrário, estava a reverter as excelentes
medidas do governo anterior.
Esse argumento, que
campeou nas hostes dos eurocratas adeptos do “rigor orçamental”, foi também
apadrinhado com deleite por muitos dos nossos políticos desbancados do poder e
amigos seus, chegando a ser uma espécie de versão oficial dos partidos do
anterior governo, não obstante a tomada de posição inicial de alguns
responsáveis desses partidos. Mas enganaram-se e, agora, sentindo-se logrados mais
uma vez, põem todas as suas esperanças no ciclo que vai iniciar-se após férias.
De ciclo em ciclo, vão
sendo sancionados pelos seus fracassos.
28 julho 2016
Sanções nulas
Eu entendo que a decisão da Comissão de recuar perante a "inevitabilidade" de aplicação de sanções a Portugal (depois da "recomendação" nesse sentido do Ecofin, e do FMI da madame nariguda) é uma clara vitória do governo português e que essa vitória é assinalável. É que, ao invés do governo anterior, o governo vigente não se agachou a pedinchar a benevolência dos senhores de Bruxelas, antes lutou frontalmente e na praça pública contra as sanções e até ameaçou recorrer de uma eventual decisão desfavorável para o Tribunal Europeu. É esta atitude nova que importa sublinhar e saudar com orgulho. É claro que se mantêm as pressões sobre o nosso país (que só pararão quando o governo atual cair...). Mas o governo já reagiu, contrariando frontalmente mais uma vez a Comissão, ao dizer que não são precisas "medidas adicionais"... É nesta atitude combativa, não subserviente, que eu me revejo. (Coitado do Dijsselbloem, esse renegado "trabalhista" holandês, mais papista do que o papa Schäuble, acabou abandonado pelo seu mentor e mestre, fazendo uma triste figura de mau perdedor...)
Sanções zero
O colégio de
comissários da Comissão Europeia acabou por aplicar a Portugal e Espanha uma
sanção zero pelo incumprimento da taxa do défice em 2015 em duas décimas.
Vitória!, clama-se. Mas
vitória de quê? Se a aplicação de qualquer sanção era uma flagrante injustiça,
a reposição da justiça é uma vitória? Sim, será uma vitória, se virmos este
desfecho como o triunfo da rectidão e da sensatez sobre uma corrente de
eurocratas com imensa vontade de tirar desforço de pequenos países como
Portugal pelo desvio milimétrico do orçamento, comportando-se como “vilões” que
gostam de malhar nos mais fracos e mostrando-se subservientes com os mais
fortes, como França e Alemanha, que já tiveram vários desvios, e maiores, sem
consequências. Entre os adeptos do “rigor”, pontificam senhores como o presidente
do Eurogrupo, um tal Jeroen Djsselbloen, pelos vistos social-democrata e,
segundo a Wikipédia, tendo feito constar da biografia um Mestrado que não
concluiu, até que foi desmentido por duas universidades e obrigado a retirar do
currículo essa referência.
Mas o que vem a ser uma
sanção zero? Nenhuma sanção ou uma sanção, apesar de tudo? O certo é que algum
efeito se pretende tirar do caso. Mais do que o resultado, o que conta para
estes senhores é a pressão que conseguiram e que mantêm sobre o nosso país
(este governo não é do seu agrado), fazendo com se falasse tanto de sanções e
que se criasse a nível nacional uma verdadeira histeria mediática à volta dos “castigos”
(palavra horrenda e anacrónica, para referir sanções).
18 julho 2016
O golpe de Estado na Turquia
É impressionante o número de
pessoas implicadas no golpe de Estado na Turquia. De minuto a minuto crescem as
detenções dos envolvidos, sendo já milhares, abrangendo militares, magistrados,
funcionários públicos ou simples cidadãos. Isto para além das pessoas afastadas
dos seus cargos. Nunca se viu um golpe com uma tão maciça rede de implicados. Provavelmente
as prisões turcas vão rebentar pelas costuras e será mesmo necessário criar
prisões “ad hoc”.
Como disse Recep Tayyip Erdogan,
o golpe acaba por ser uma boa oportunidade para fazer uma limpeza da sociedade
turca. E que limpeza! Para que essa limpeza seja mesmo eficaz, o ideal é mandar
boa parte dessa gente para a forca. O povo já a reclamou nas ruas e Recep
Tayyip Erdogan mostrou ser muito sensível à voz do povo. Por duas razões: a voz
do povo é voz de Deus e, para além disso, a democracia assenta na vontade do
povo. Duas razões de inegável transcendência que Erdogan sabe captar como
ninguém na sua dupla faceta de homem religioso e de indefectível democrata.
13 julho 2016
Uma medida que se impunha
Vai acabar a apresentação
quinzenal dos desempregados aos centros de emprego e às juntas de freguesia.
Era uma obrigação humilhante, para além de ser uma forma de controle classista.
É claro que é preciso evitar fraudes, que sempre as há, mas as maiores fraudes,
como se tem visto, têm sido praticadas por gente e instituições de alto
coturno, sem qualquer controle.
Durão Barroso e a ética
A decisão de Durão
Barroso de aceitar o cargo de director da Goldeman Sachs tem sido criticada por
gente de todos os quadrantes. Agora foi o governo francês que aconselhou o
ex-presidente da Comissão Europeia a renunciar ao cargo e até o vice-presidente
desta instituição europeia criticou a atitude de Barroso, em nome do prestígio e
da credibilidade dela e da própria União.
Porém, já se sabe que para
Barroso este tipo de decisões que se relacionam com o penacho acrescido que vai
emplumar a sua imagem e fazer multiplicar os seus réditos é irrevogável. Não
lhe falem em desistir. Ele está de peito feito para avançar, custe o que custar.
Fala-se em estreitar as
regras da União Europeia que permitem saídas à Durão Barroso. Acho muito bem,
mas o que é lamentável é que, em matéria de ética, nunca sejam os que exercem cargos
de tão alta responsabilidade a refrear-se em nome dos princípios que deveriam
nortear as suas vidas.
PS . Já que falei de ética, faço minhas as palavras de Maia Costa em relação a Sousa Ribeiro, presidente do Tribunal Constitucional, esse, sim, um exemplo de verticalidade ética e de hombridade profissional.
Joaquim Sousa Ribeiro
Termina hoje o mandato de Sousa Ribeiro à frente do TC. Ele garantiu, quando tomou posse da presidência, a independência e isenção do TC frente aos interesses político-partidários. Procurou e conseguiu cumprir esse propósito, assumindo a defesa da Constituição contra todas as pressões internas, nomeadamente governamentais, e mesmo vindas de fora, da nossa querida UE. Com este mandato o TC saiu altamente prestigiado. E Sousa Ribeiro conseguiu ainda outra coisa: explicar oralmente as decisões mais complexas do TC, para que a generalidade das pessoas as entendesse, sem perda de rigor. Um legado inestimável.
Bernie Sanders
Este "socialista" anti-Wall Street ia provocando um sismo no Partido Democrático americano. "Ia", mas não foi... Em todo o caso, foi um susto para o sistema partidário. Alguma coisa parece que ficou: Hillary teve que assumir umas promessas de aumento do salário mínimo e de melhoria do sistema de saúde... Mas o movimento de esperança desencadeado sobretudo entre os jovens pela candidatura de Sanders vai continuar? (Eu cá não tenho esperança nenhuma que sobreviva, mas eu sou um pessimista assumido.)
12 julho 2016
Just do it (???)
O que é que isto, escrito a letras gordas no autocarro da seleção nacional, significa? Expliquem-me por favor! Creio que a maioria dos portugueses também precisará de saber...
Schäuble ganhou mais uma vez
A Alemanha conseguiu sem dificuldade impor a sua lei no Ecofin, demonstrando a sua imperial arrogância e inflexibilidade quando trata com os "fracos" do sul. O mesmo fizera já com a Grécia. As diligências sedutoras de Costa e do PR não resultaram. A Alemanha de hoje não se deixa seduzir e é implacável para com todos os que pisarem o risco por ela traçado: o famoso Tratado Orçamental. No caso português, como aliás no grego, a Alemanha não perdoa a um governo que expressamente recusa a lei da austeridade, e quer vergá-lo até à rendição... Por isso vai repetindo insistentemente a necessidade de "medidas adicionais", medidas que mais não são do que a restauração da política de submissão praticada pelo querido amigo Passos Coelho. O que está em curso é a tentativa de impor ao governo português a política oposta à que foi aprovada pela AR quando da sua investidura; em última instância, é o próprio derrube do governo que a Alemanha tem em mira, e eu não estou a delirar, hoje derrubam-se governos não só pela força das armas...
Campeões
Eu não sou nada do
futebol, mas vi todos os desafios e vibrei com eles e descobri que o futebol
não merece o desamor que eu sempre lhe votei. Pelo menos, quando estão em causa
campeonatos entre países. Neste caso, o futebol adquire uma dimensão simbólica
que atinge fatalmente o sentimento nacional e mesmo patriótico. É todo um povo
que se identifica com a respectiva selecção, decepcionando-se com os seus
fracassos e vibrando com os seus êxitos.
O futebol é guerra
sublimada. Quando se ganha, é o orgulho de um povo que emerge, o ego colectivo
que se levanta; quando se perde, é a humilhação que deita por terra o seu ânimo
e o fere no seu sentimento de pertença a
uma colectividade. Não foi por acaso que os franceses não foram capazes de
iluminar a Torre Eiffel com as cores de Portugal, um pequeno país periférico
que se fartou de exportar mão-de-obra para França e de expor os seus nacionais
a duras condições de vida, nos chamados “bidonvilles”.
A vitória de Portugal
representa, por isso, um feito notável que confere ao país uma visibilidade que
muito o prestigia, como assinalou o primeiro-ministro António Costa, e que pode
incentivar o nosso brio colectivo. Porém, o que irrita é esta tagarelice pegada
sobre o futebol nos “media”, esta histeria nacionalista e este descambar para a
automitificação. Já há quem nos considere uma “potência do futebol”. Nem mais. Somos
uma potência no domínio da bola.
11 julho 2016
Agora foi em Dallas
Muita gente que eu conheço acreditou que a eleição de Obama era a demonstração de que o racismo nos EUA tinha os dias contados. Afinal não foi bem assim. O racismo da polícia americana, e das instituições judiciais, particularmente do "grand jury", abundantemente exibido nos últimos anos, persiste (mesmo quando os chefes da polícia são negros...). É uma situação transversal a todo o país, atiçando focos explosivos subitamente de grandes cidades a meios pequenos. Depois o fogo apaga-se, mas pode reacender-se inesperadamente em qualquer ponto próximo ou distante. Quando os constituintes americanos escreveram, em 1787, "nós, o povo" não estavam a pensar nos negros, e essa exclusão tem ainda as suas sequelas.
José Manuel: uma trajetória coerente
José Manuel está a caminho do Goldman Sachs, instituição central do capitalismo financeiro. É a conhecida simbiose entre economia e política que caracteriza a "governança" do mundo de hoje, ou melhor, é a política ao serviço da "economia". É cada vez mais assim. E José Manuel demonstrou-o com uma avidez eloquente.
10 julho 2016
O relatório britânico
Um dos acontecimentos
mais relevantes desta semana foi a divulgação do resultado a que chegou a
comissão de inquérito à decisão de Toni Blair de se envolver na invasão do
Iraque. Treze anos depois desse acto monstruoso, que inaugurou um período negro
de destruição e morte para todo um povo, de infernização para toda uma região e
de recrudescimento do terrorismo global, que agrava não só a estabilidade do
Médio Oriente, como também constitui uma ameaça à paz em várias zonas do globo,
ficou assente em bases credíveis, que não apenas no domínio da especulação, o
carácter voluntarioso e fraudulento, por parte dos principais responsáveis -
Georges W. Bush e Toni Blair -, da invasão.
O julgamento da
História já começou com este relatório da referida comissão, mas os
responsáveis escapam a um julgamento judicial, que era o que devia acontecer se
os tribunais internacionais para julgarem actos desta natureza não fossem
constituídos apenas para afirmarem o poderio dos vencedores sobre os vencidos e
dos mais fortes sobre os mais fracos. Que Toni Blair, reagindo sobre o
relatório, tenha dito, para além de outras coisas em sua defesa, que o Iraque
ficou melhor sem Sadam, só releva ou de má-fé ou de total cegueira.
Quanto às figuras
secundárias da Península - José Maria Aznar e Durão Barroso-, aparentemente eles
foram coniventes dessa guerra sem fim, a não ser que, como aventou um bem
intencionado jornalista que eu ouvi na rádio, eles tenham sido convencidos da
iminência dela, por lhes terem sido mostradas provas falsificadas. Nesse caso,
eles terão sido o D. Quixote e o Sancho Pança ibéricos, instrumentalizados para
caucionarem a guerra com a falsa visão dos seus nobres objectivos, os quais
resultaram nos moinhos-de-vento da total ausência de armas químicas e
biológicas, contra que investiram ingenuamente. Pobres deles!
07 julho 2016
O Iraque está melhor?
Só mesmo os que sentem a consciência (???) intranquila podem dizer que o Iraque de hoje, devastado diariamente pelo terror e pelo ódio sectário, destruído como povo e nação, é melhor do que o anterior à invasão de 2003. Estou seguro, porém, que a Inglaterra está hoje melhor do que sem Blair, conhecido mentiroso compulsivo, e os EUA e o mundo imensamente melhor do que sem o Bush filho, ignorante e irresponsável promotor de "democracias" por esse mundo fora...
"As regras são para cumprir"
É este o lema da dupla Schäuble/Merkel, assessorados por Dijsselbloem. É uma versão atual do velho lema "dura lex sed lex", absolutamente anacrónico no direito moderno, que faz depender a aplicação da lei da análise de todas as circunstâncias do caso. O problema é que temos o direito da UE aplicado por economistas/políticos dogmáticos, norteados por uma mentalidade disciplinar/punitiva que pensa a UE como um grupo de escuteiros obedientes, ou como um cárcere (se for necessário).
04 julho 2016
O fantasma das sanções
Os representantes do anterior
governo andam aí numa azáfama a tentar convencer os portugueses de que, a virem
as sanções de Bruxelas, elas devem atribuir-se a culpa deste governo e não ao
seu. É fantástico este golpe de rins para virar as coisas ao contrário. As
sanções seriam para punir o exercício do executivo durante os anos de
2013-2015, por não ter cumprido o abaixamento do défice para 3%; portanto o
governo anterior.
Porém, o que os
anteriores governantes argumentam agora é que o governo actual é responsável,
por não ter dado continuidade às medidas por eles implementadas, o que teria
acarretado diminuição de credibilidade do país, face aos burocratas de Bruxelas
e aos investidores. Este golpe acrobático parece corresponder à brilhante ideia
de várias das luminárias do colégio de comissários (comissários de quem?) que
pretendem inflectir o sentido da punição, virando-a contra o actual governo,
que não é da sua simpatia, sob pretexto de não tomar as medidas necessárias
para corrigir o défice, ou, por outras palavras, por não aplicar as políticas
de austeridade que eles querem ver seguidas. Por outras palavras ainda:
trata-se de uma forma de interferir na governação do país, impondo um programa
que não é aquele com que o governo actual, com suporte parlamentar baseado num
acordo de partidos, se propôs governar. Intervenção tanto mais inadmissível, quanto,
como disse hoje o presidente da República, este governo não tem ainda tempo
suficiente para uma avaliação fundada da sua actividade e, até ao momento, nada
justifica qualquer sancionamento. Para estes cavalheiros não importa o programa
de um governo, nem, em bom rigor, a vontade de um povo; o que interessa é que o
governo, seja ele qual for, cumpra o programa deles, a ideologia que eles
defendem. O anterior governo não passou de um mero executante das ordens desses
senhores; este que está foge às regras: logo, tem de ser punido, ainda que seja
só com um simples puxão de orelhas, mas que tem suficiente carga perversa, pois
nesse puxão de orelhas está uma desqualificação que conta internacionalmente.
É incrível a obstinação
destes indivíduos em fazer deitar por terra a tal casa comum europeia.
03 julho 2016
Wolfgang Schauble
Wolfgang Schauble, como
toda a gente já viu, tem, do sangue ariano que lhe corre nas veias, um
irreprimível vezo imperial. Vai daí foi incapaz de açaimar a sua raiva contra o
actual governo português, por este supostamente não seguir a ortodoxia de Bruxelas
(ou de Berlim?), mais conhecida por “não há alternativa”, e quis malhar um
golpe assassino no pequeno país periférico, dizendo que este está “a pedir um
segundo resgate”.
Ele não tolera que um
paiseco do Sul, que já foi o melhor aluno da turma, fuja aos seus “diktats” e
ao marcial mando com que pensa reger, da sua cadeira ambulante, os destinos da
Europa, mas talvez consiga é arrebanhar ódio dos povos europeus, ódio contra si
e contra o país cuja vontade de império ele talvez pretenda encarnar.
Ontem, primeiro num
restaurante e depois, casualmente, na montra de um estabelecimento, onde se
apinhavam várias pessoas a ver o futebol, tive ocasião de verificar que quase
todas, se não mesmo todas, torciam pela Itália, numa espécie de sentimento
antigermânico.